Por: Alexandre Pereira
Estamos atravessando um momento único em todos os sentidos. A pandemia causou perdas e prejuízos familiares, financeiros e emocionais. Entretanto, são nos momentos de crises que percebemos o quanto somos criativos e o quanto resilientes precisamos ser.
De acordo com o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em parceria com a CNA, em 2020 o agronegócio brasileiro alcançou participação de 26,6% no Produto Interno Bruto do Brasil, contra 20,5% em 2019. Já a participação do agro na soma dos bens e serviços do país em 1970 era de 7,5%.
Sim, boa parte deste avanço está relacionado com a predição do Brasil para a agropecuária, mas o fator humano tem, teve e sempre terá uma participação relevante. Somos um povo resiliente e criativo. A arte de inovar corre em nosso sangue. Neste ponto, recorro a Grécia Antiga, onde carrego um pouco das ideias de um filósofo intrigante e desafiador: Sócrates. Com as ferramentas da metodologia socrática.
Ok, mas o que é o tal do método socrático então? Pois bem, o método é extremamente simples e poderoso ao mesmo tempo: consiste em partir de uma ideia ou hipótese e fazer perguntas até se chegar a algum absurdo. Desta forma, é possível invalidar uma hipótese ou perceber onde estão suas fraquezas, para reforçá-la e ressubmetê-la ao processo. Este simples método, quando aplicado com sinceridade, nos permite refletir profundamente e de forma quase infinita sobre a mais variada gama de ideias e conhecimentos. Mas use-o com cautela…
Arrisco dizer que Sócrates foi o pai da inovação ou o avô. Inovação não é mais um luxo; é sim uma necessidade.
Em 2007, as cinco maiores produtoras de celulares do mundo (Nokia, Samsung, Motorola, Sony Ericsson e LG) controlavam 90% dos lucros do setor. Foi nesse ano que Steve Jobs subiu ao palco, em uma das apresentações mais memoráveis da história, para lançar o primeiro iPhone. Em 2015, a Apple já gerava sozinha 92% dos lucros globais da indústria.
Não importa o tamanho da empresa: ninguém pode prever e controlar o futuro. O cenário é de VUCA (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). A tecnologia avança rumo à singularidade e o crescimento do mercado já não é mais linear, mas sim exponencial. O denominador comum a todas as projeções futuristas é a incerteza.
“Inovação é uma mudança no processo pelo qual uma organização transforma trabalho, capital, matéria-prima ou informação em produtos e serviços de valor maior”
Me atrai o modelo mental em dividir inovação em 2 tipos:
1 – A inovação disruptiva é aquela que produz uma nova solução, capaz de substituir produtos e serviços anteriores dentro de um certo mercado, rompendo paradigmas e criando novos hábitos de consumo.
Um dos melhores exemplos de inovação disruptiva que podemos ver é na indústria do entretenimento.
Com o surgimento da Netflix e de outros serviços de streaming de vídeo, os DVDs e BlueRays, assim como os aparelhos necessários para reproduzi-los, e até mesmo os estabelecimentos que os forneciam (como a famosa Blockbuster) foram, em grande parte, substituídos.
Os consumidores já não compram ou alugam mídia física; ao invés disso, eles pagam um valor fixo mensal que permite assistir seus filmes e séries favoritos, a qualquer hora, em qualquer lugar, sem limites, diretamente no computador, celular ou televisão.
2- Inovação incremental é aquela que implementa melhorias em um processo ou uma solução que já existe. Assim, é possível atingir níveis progressivamente mais altos de eficiência e desempenho.
Um exemplo interessante de inovação incremental é o caso da indústria de smartphones.
Embora sejam lançados modelos completamente novos, o mais comum é que, a cada ano, as grandes marcas lancem versões novas de aparelhos que já existem. Eles podem ter câmeras com resolução maior, ou uma bateria com capacidade para mais horas; no entanto, os traços principais do produto se mantêm.
Desta forma, as fabricantes ganham muito tempo e reduzem custos no desenvolvimento; ao mesmo tempo, o resultado tende a ser sempre superior ao que já existia. Ou seja, existe um ganho para a empresa e para o consumidor.
Friso que termo de inovação disruptiva está sendo usado de maneira equivocada atualmente, nem toda a inovação é disruptiva na verdade inovação disruptiva é extremamente rara.
Normalmente as empresas mais maduras ou até familiares, já consolidadas no mercado e com o modelo de negócio validado, tendem a direcionar seus esforços para atingir resultados financeiros cada vez mais consistentes. Garantir a eficiência da operação, cortar custos e aumentar a margem de lucro dos produtos ou serviços vira o “business as usual” das companhias na fase de maturidade.
Como os líderes das empresas consolidadas são cobrados por indicadores de eficiência, é normal que o foco da companhia seja apenas em inovações incrementais. Nessa etapa, é bem comum aplicar as boas práticas de “product management” que temos à disposição. Melhoramos o produto baseado no feedback dos nossos usuários, fazemos pesquisas com a nossa base de clientes constantemente e todas as entregas são pensadas nas personas da companhia. Mas isso não é suficiente para manter sua empresa viva no longo prazo.
Quando seguimos essa lógica, naturalmente direcionamos os esforços da empresa para um público específico (os usuários da base da empresa) e negligenciamos uma grande fatia do mercado que possui necessidades diferentes e precisam de outro tipo de produto para atendê-los. É no mercado mal atendido e com pouca atenção das empresas consolidadas que mora a oportunidade da inovação disruptiva
E aí inovo ou não?
A resposta é SIM, COM CERTEZA! Como comentado, a inovação (incremental ou disruptiva) não é um luxo, é uma necessidade, é uma questão de sustentabilidade.
Em muitas situações, a matéria prima para a inovação já está disponível dentro da empresa quase que naturalmente nas áreas de vendas, marketing estratégico, P&D, qualidade e operacional, precisando apenas organizá-las e estruturá-las. Sendo assim, a inovação é multiárea e multidisciplinar.
Quando capturamos estes insights, confrontamos com o planejamento estratégico e sobrepomos aos processos existentes. Verificamos a dimensão que uma ideia pode tomar, saindo de apenas um impacto em um indicador de eficiência isolado, podendo chacoalhar toda a cadeia de indicadores de uma empresa
Daí a necessidade de conhecer seus processos. Quando bem mapeados, os processos de uma empresa são a base de entendimento estratégico do negócio, de garantia da qualidade, de conhecimento, otimização, e da inovação.
“Processo é uma palavra com origem no latim “procedere”, que significa método, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atingir algum objetivo.”
Abaixo está o mapeamento de processo para a produção de cana de açúcar:
Quando entendemos a fundo cada um destes processos e suas interações e aplicamos metodologias consagradas, como por exemplo: 5H2H (W: What (o que será feito?), Why (por que será feito?), Where (onde será feito?), When (quando?), Who (por quem será feito?), 2H: How (como será feito?), How much (quanto vai custar?), PDCA, Six Sigma e diagrama de causa e efeito, a oportunidade muda de dimensão.
Conforme a figura abaixo, é neste ponto que entendemos quais processos são mais estratégicos e quando aplicamos uma inovação nestes, todos os processos da cadeia vibram, amplificando o retorno sobre o investimento da inovação aplicada.
Sempre existe um ganho no processo bem elaborado de inovação e/ou melhoria contínua, independentemente do mercado (cana de açúcar, grãos, sementeiras, pecuária, agroquímica) e da metodologia de inovação utilizada, que pode ser desenvolvida internamente ou até externamente, o que muitos chamam de inovação aberta ou fechada em todas as situações.
Para compreender melhor o que é a inovação aberta, vale a pena falar um pouco sobre a inovação fechada.
Essa é a abordagem de trabalho mais comum nas empresas atuais. Mesmo que não escolha isso de forma ativa, o empreendedor tende a enveredar por esse caminho. Isso porque é comum pensar na ideia de que é preciso manter em segredo 100% das informações corporativas.
Na abordagem fechada, contatos, informações, processos e novas ideias são mantidas nos limites internos da organização e nenhum tipo de troca externa é realizada.
Nesse modelo, recursos externos são vistos como resultado dos concorrentes e toda a fonte de inovação é interna.
A inovação aberta vem propor uma mudança nesse formato. A cultura do “open innovation” se baseia na ideia de que compartilhar ideias e processos é fundamental para que todos ganhem.
Afinal, quanto mais informações forem compartilhadas, mais ideias serão desenvolvidas e melhores serão as soluções entregues aos clientes.
Fica claro a importância da inovação e o que ela traz de benefícios para o agronegócio que utiliza dela, ainda mais em tempos de pandemia, onde muitos setores tiveram que reinventar processos para sobreviver no mercado, que cada vez mais está aberto a soluções de impacto e inovadoras.
Mas a pergunta que nunca quer calar antes de fechar um contrato ou abrir um setor capacitado de inovação dentro da empresa é: Será que com a minha empresa vai dar certo? Eu vou conseguir visualizar resultados substanciais ao longo desse processo?
Existem várias formas de inovar na empresa. O ideal é ter um “plano diretor de tecnologias” que, conhecendo o planejamento estratégico da empresa (onde está, onde ela se vê nos próximos 5 e 10 anos), proponha iniciativas tecnológicas que suportarão este planejamento, crescimento e otimização.