Pesquisa de professor da Fazu mostra que o uso de ácidos húmicos tem se tornado uma alternativa viável para cultura da cebola
Atualmente, a agricultura vem exigindo adoções de práticas racionais ao meio ambiente, visando atender à crescente demanda por alimentos tanto em quantidade como em qualidade. Neste cenário, o uso de ácidos húmicos, que são resultantes da decomposição da matéria orgânica, tem se tornado uma alternativa viável para as plantas.
Suas propriedades físicas, químicas e microbiológicas são capazes de proporcionar incrementos na produtividade em função dos benefícios promovidos não só na estrutura física e química dos solos, como também no metabolismo das plantas. Devido à natureza complexa ainda pouco conhecida dos ácidos húmicos, seus efeitos não são fáceis de serem explicados, uma vez que existem substâncias húmicas muito diferentes, seja em função da origem do material, métodos de extrações e/ou pelas diferentes concentrações de ácidos húmicos contidos.
De acordo com pesquisa do professor da Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba), Dr. Saulo Strazeio Cardoso, em parceria com a bióloga Marcela Caetano Lopes, doutoranda em Agronomia/Horticultura, cada espécie vegetal pode reagir de forma diferente à aplicação dos ácidos húmicos, bem como apresentar respostas diferenciadas à medida em que for se desenvolvendo. Nesse contexto, novos estudos devem ser realizados visando explicar questionamentos sobre recomendação (dose e épocas de aplicação) em função dos diferentes tipos de solos, condições ambientais, tipos de plantas e fontes de ácidos húmicos.
Mais enraizamento para a cebola
Os ácidos húmicos presentes nos solos agem de forma semelhante à auxina, ou seja, proporcionando a expansão e elongação das células e, consequentemente, o crescimento das raízes. Esse fenômeno ocorre devido ao estímulo na atividade da H+ -ATPase (bombas de H+) de membrana plasmática, em função das substâncias húmicas que apresentam baixo peso molecular favorecerem a emissão de pelos radiculares e raízes laterais finas, tendo assim um aumento das raízes das plantas. As H+ -ATPases são enzimas transmembranares eficientes para hidrolisar ATP, possibilitando energia e gradiente eletroquímico, os quais apresentam interação direta com os mecanismos responsáveis por proporcionar o desenvolvimento e crescimento dos vegetais, isto é, concedem maior plasticidade na parede celular, favorecendo o crescimento e divisão celular. Sendo assim, pode-se dizer que os ácidos húmicos alteram diretamente o metabolismo bioquímico das plantas e, por consequência, influenciam no seu crescimento e desenvolvimento.
Possibilidades Existe, no mercado, uma diversidade de produtos contendo ácidos húmicos, cuja fonte mais utilizada para a fabricação é a leonardita. Porém, é possível obter ácido húmico de outras fontes, como carvão, turfas, estercos, resíduos humificados e vermicomposto. Os ácidos húmicos, quando empregados, proporcionam benefícios às propriedades físicas e químicas dos solos, favorecem o aumento das raízes e a absorção de nutrientes pelas plantas.
Manejo A aplicação de ácidos húmicos pode ocorrer desde o início do ciclo da cultura, podendo ser aplicado via solo ou foliar. Tem-se também a opção de realizar a aplicação no solo e complementar com a aplicação via foliar. Com relação às doses, número e época de aplicação, deve-se levar em consideração a fertilidade do solo em questão, o material genético cultivado, as condições climáticas da região e as recomendações do produto comercial estabelecido pelo fabricante.
Benefícios à cebola Uma diversidade de culturas pode ser beneficiada com a aplicação de ácidos húmicos. Resultados já foram relatados com as culturas da alface, cebola, tomate, beterraba, melancia, citros, milho, abacaxi, banana, dentre outras. Os resultados obtidos para a cultura da cebola com o uso de ácido húmico são bastantes variáveis e dependem das substâncias húmicas utilizadas, concentração, grau de purificação do material e das condições em que foram realizados os experimentos. Informações na literatura indicam que o emprego de ácidos húmicos e fúlvicos na cultura tem proporcionado aumentos em sua produção. Estudos avaliando diferentes produtos comerciais ricos em ácidos húmicos obtiveram um aumento de 17% na produtividade comercial da cebola, comparados à testemunha (sem aplicação de fontes de ácidos húmicos). Outros estudos reportam que a aplicação de 2,0 kg ha-1 em sulco de plantio aumentou a disponibilidade de nutrientes para as plantas e, consequentemente, sua produção. Foi observado também que a aplicação via foliar aos 60 e 80 dias após o transplantio das mudas, com o uso de um produto comercial contendo 18,5% de ácido húmico, proporcionou aumentos no crescimento vegetativo, na produção de bulbos e qualidade da colheita.
Erros mais frequentes Quando se tratam de erros, pode-se dizer que os mais frequentes são a falta de conhecimento das fontes e produtos comerciais disponíveis no mercado. Para minimizar esses erros, deve-se ter conhecimento dos produtos comerciais disponíveis, a recomendação (dose e épocas de aplicação) para a cultura em específico, bem como sobre a análise química do solo para possíveis tomadas de decisões.
Na Fazu O professor Dr. Saulo Strazeio Cardoso é doutor em Agronomia (Produção Vegetal), professor dos cursos de Agronomia e Zootecnia e coordenador do curso de pós-graduação em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da Fazu.