Relembrar a vida universitária é sempre um exercício de nostalgia, especialmente para aqueles que vivenciaram intensamente os anos 80. Essa é a sensação ao ouvir o depoimento de Laurival Camargo, egresso da Fazu, formado em 1983 pela IX Turma de Zootecnia. Natural de Santos, (SP), Laurival descreve com riqueza de detalhes como era a experiência de morar em uma república naqueles tempos.
Nos anos 80, morar em uma república era muito mais do que dividir um espaço: era criar uma família longe de casa. Laurival relembra com carinho os dias passados na República dos Paulistas, que levava esse nome por abrigar estudantes do estado de São Paulo. “Fazíamos muitas festas e estudávamos muito também. Um auxiliava o outro no que fosse necessário e não imaginávamos que essa amizade se tornaria em uma irmandade que perduraria por toda vida”, conta ele, ressaltando que o apoio mútuo entre os colegas era constante.
Os tempos eram de convivência intensa, em que os momentos de alegria e saudade se misturavam. “Tínhamos nossos momentos de alegria, tristeza e saudade da família. Participávamos das festas de outras repúblicas numa confraternização de toda turma”, recorda. As aventuras também faziam parte do cotidiano. “Fazíamos pequenas loucuras percorrendo a cidade fantasiados na carroceria de caminhonetes, entrando em bares badalados, entre outras coisas.”
Viver em república não envolvia apenas festas e estudos. Laurival relembra a rotina compartilhada, onde as tarefas eram divididas e a adaptação era uma necessidade. “Morando fora de casa, aprendemos a cozinhar, limpar a casa, lavar nossas roupas e comer de tudo sem reclamar. A carne que sobrava virava o picadinho do dia seguinte e o picadinho que sobrava seria o molho do macarrão do outro dia”, relembra, rindo das situações que hoje são encaradas com nostalgia.
As repúblicas também eram ambientes de romance. “Os solteiros ou aqueles sem namorada na cidade acabavam namorando as moças da cidade ou as estudantes de fora. Não sei se os pais delas gostavam uma vez que estudante de fora eram vistos com certa cautela, rsrs”, comenta, lembrando que muitos desses relacionamentos resultaram em casamentos. E como bons vizinhos, sempre havia o cuidado de bater à porta antes de entrar. “Era de bom grado bater na porta primeiro, pois poderia ter um ‘casal de pombinhos’ namorando”, brinca.
Laços que Perdurarão
Mesmo após mais de 40 anos desde a formatura, Laurival e seus colegas continuam em contato. “Por incrível que pareça, até hoje mantemos contato com algumas pessoas, seja via internet ou pessoalmente, selando nossa amizade”, destaca. Essa conexão é alimentada por encontros periódicos, como o que ocorreu em junho passado, celebrando os 41 anos de formados.
Outro aspecto importante da vida em república era a relação com os vizinhos. Laurival destaca que os moradores locais eram sempre solícitos e, muitas vezes, ajudavam os estudantes com guloseimas típicas da região, criando um ambiente de integração entre os jovens de fora e a comunidade. “Foram tempos incríveis e talvez, os melhores anos de nossa vida de estudante”.
As lembranças da cidade de Uberaba e da Fazu são carregadas de afeto. Laurival relembra com carinho a chegada à cidade, cheia de saudades de casa, e a despedida, ainda mais emotiva pela amizade que uniu os corações de estudantes. “Tempos inesquecíveis que guardamos com muito amor e carinho e que passamos para nossos filhos”, reflete.
A Foto na Carriola e Outras Memórias
Uma das fotos mais simbólicas para Laurival foi tirada no jardim frontal da República dos Paulistas, durante uma das muitas festas realizadas pelos estudantes. Na imagem, ele aparece ao lado de Cyro, seu colega de São Paulo. Em outro momento, ele relembra Dora Sivieri, ex-secretária da Fazu, que hoje leva o nome da Biblioteca, uma figura respeitada por todos os alunos, e a sobrinha dela, Taciana Sivieri, que também fez parte da turma de Laurival.
Laurival ainda destaca a influência que a família Prata, de Uberaba, teve em sua escolha pela Fazu. “Eles são amigos da minha família. Fiz estágio com Dr. Hugo Prata na fazendo de Whalter Moreira Salles na cidade de Matão (SP) quando eu era estudante. Dr. Hugo Prata, tempos depois, chegou a ser diretor da Fazu. Decidi estudar Zootecnia porque minha família tem fazenda no interior do Estado de São Paulo e Mato Grosso e desde criança frequentei as fazendas pegando gosto pela atividade”, afirma.
Em cada palavra de Laurival, fica evidente a gratidão e o carinho pela Fazu, uma instituição que marcou profundamente sua vida e a de tantos outros alunos. Para ele, Uberaba e a Faculdade de Zootecnia de Uberaba merecem todo o respeito e consideração. Essa história, assim como tantas outras, é parte do legado que a Fazu celebra ao completar meio século de existência.